Alta energia, Alta velocidade, Mecânica quântica, Notícia, Partículas subatômicas

Chumbo se transforma em ouro no LHC

No experimento ALICE, do LHC, interações próximas de alta energia entre núcleos de chumbo removeram prótons e produziram núcleos de ouro.

Para saber o que é o LHC (Grande Colisor de Hádrons), clique nos links a seguir.

CERN (Parte 1)Clique aqui

CERN (Parte 2)Clique aqui

Fonte: CERN (Traduzido para o Português)

Transformar o metal base chumbo em um metal precioso como o ouro foi o sonho dos alquimistas medievais. Esta busca de longa data, conhecida como crisopeia, pode ter sido motivada pela observação de que o chumbo cinza opaco e relativamente abundante possui uma densidade similar à do ouro, conhecido por sua beleza e raridade. Muito tempo depois, ficou claro que chumbo e ouro são elementos químicos distintos e que os métodos químicos são incapazes de transmutar um elemento em outro.

Com o início da física nuclear no século XX, descobriu-se que elementos pesados poderiam se transformar em outros, naturalmente, por decaimento radioativo, ou em laboratório, com o bombardeio de nêutrons e prótons. Embora ouro já tenha sido produzido artificialmente, a equipe de colaboração do ALICE mediu a transmutação de chumbo em ouro por um novo mecanismo, envolvendo quase colisões de núcleos de chumbo no LHC. 

Em 1919, a equipe de Ernest Rutherford realizou a primeira transmutação artificial usando este aparelho, converteu nitrogênio (N) em oxigênio (O) e hidrogênio (H), com o bombardeio de partículas alfa (núcleos de hélio(He)), que vinham de uma amostra de polônio. Fonte: (Longair, 2021).

Reação química da primeira transmutação artificial.

_{14}^{7}\textrm{N}+_{4}^{2}\textrm{He}\rightarrow _{17}^{8}\textrm{O}+_{1}^{1}\textrm{H}

No LHC, colisões de alta energia entre núcleos de chumbo podem criar um plasma de quarks e gluons, um estado da matéria quente e denso, que preencheu o Universo por volta de um milionésimo de segundo após o Big Bang, dando origem à matéria que conhecemos. Porém, nas interações muito mais frequentes, onde os núcleos passam um pelo outro sem se tocarem, intensos campos eletromagnéticos ao redor podem induzir interações entre fótons e entre fótons e núcleos, que abrem novos caminhos de exploração.

O campo eletromagnético que emana de um núcleo de chumbo é particularmente forte, pois o núcleo contém 82 prótons, cada um com uma carga elétrica elementar. Além disso, a alta velocidade na qual o núcleo de chumbo viaja no LHC, correspondente à 99,999993% da velocidade da luz, faz as linhas do campo eletromagnético serem esmagadas como uma fina panqueca, transversal à direção do movimento, produzindo um pulso de fótons de curta duração. Geralmente, isto causa o processo da dissociação eletromagnética, onde um fóton interagindo com o núcleo pode causar oscilações na estrutura interna, resultando na ejeção de pequenas quantidades de nêutrons e prótons. Para criar ouro, um núcleo com 79 prótons, três prótons devem ser removidos de um núcleo de chumbo nos feixes do LHC.  

quase colisão no LHC
A dissociação eletromagnética, que transforma um núcleo de chumbo (Pb) em núcleo de ouro (Au). A imagem é da mesma fonte da notícia.

A equipe do ALICE usou os calorímetros de zero grau (ZDC) do detector, para contar o número de interações fóton-núcleo, que resultam na emissão de zero, um, dois e três prótons acompanhados de pelo menos um nêutron, que são associados com a produção de chumbo, tálio, mercúrio e ouro, respectivamente. Embora menos frequente que a criação de tálio ou mercúrio, os resultados mostram que o LHC atualmente produz ouro a uma taxa máxima de 89.000 núcleos por segundo das colisões entre chumbo no ponto de colisão do ALICE. Os núcleos de ouro emergem da colisão com muito alta energia e acertam os tubos de feixe do LHC ou os colimadores em vários pontos, onde se fragmentam em únicos prótons, nêutrons e outras partículas. O ouro existe apenas por uma pequena fração de segundo.

A análise do ALICE mostra que durante a segunda execução do LHC (2015-2018), aproximadamente 86 bilhões de núcleos de ouro foram criados nos quatro experimentos principais. Em termos de massa, corresponde a somente 29 picogramas ( 2,9\cdot 10^{-11} g). Como a luminosidade no LHC aumenta continuamente, graças aos aprimoramentos nas máquinas, a terceira execução produziu quase o dobro de ouro que a segunda, mas o total ainda é um trilionésimo de vezes menor que o requerido para uma peça de joia. Embora o sonho dos alquimistas medievais se realizou tecnicamente, suas esperanças de riqueza foram frustradas mais uma vez.

“Os resultados também testam e melhoram modelos teóricos de dissociação eletromagnética que, além do interesse físico intrínseco, são usados para entender e prever perdas de feixes, que são um grande limite no desempenho do LHC e de futuros aceleradores”, disse John Jowett, um dos membros da equipe de colaboração ALICE.

About Pedro Ney Stroski

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *