Geologia, História, Meio ambiente, Partículas subatômicas, Termodinâmica

O reator nuclear natural pré-histórico

Há 2 bilhões de anos atrás, ocorreu uma fissão nuclear no depósito de urânio de Oklo, no atual Gabão, África Central. É o único reator nuclear natural descoberto até o momento.

Como o reator nuclear natural foi descoberto?

O urânio é encontrado em 3 formas:

  • U-234: é o isótopo mais raro.
  • U-235: é o urânio físsil, que faz a fissão nuclear.
  • U-238: é o mais abundante.

Em Maio de 1972, trabalhadores da usina de enriquecimento de urânio de Pierrelatte fizeram medições da quantidade de urânio na mina de Oklo. Quando foi medido o conteúdo, esperava-se que a quantidade de U-235 correspondesse a 0,720%. No entanto, a porcentagem encontrada foi de 0,717%. Faltavam 200 kg de U-235. Como explicar esta diferença?

localização do reator nuclear natural
Localização do reator nuclear natural de Oklo, há 1,7 bilhões de anos atrás. Fonte: Oopart.

Para ocorrer uma fissão nuclear, o depósito de urânio deve ter no mínimo 3% de U-235. A meia-vida do U-235 é de 700 milhões de anos, enquanto a meia-vida do U-238 é de 4,5 bilhões de anos. Se hoje o conteúdo de urânio físsil é de 0,72%, 2 bilhões de anos atrás o conteúdo era de 3,67%, o suficiente para a fissão nuclear.

Evidências da fissão

Ter a quantidade certa do isótopo não é o suficiente para sustentar a hipótese do reator nuclear natural. Outras evidências que devem ser encontradas são:

  • Rutênio-99: Naturalmente, este isótopo corresponde a 12,7% do rutênio total em uma reserva. Com uma fissão nuclear, esta porcentagem fica entre 27% e 30%.
  • A taxa de U-235/U-238 deve ser menor do que o normal.
  • Isótopos de xenônio (Xe), como o Xe-144 e o Xe-135.
  • Neodímio-143: Para indicar que houve uma fissão, o conteúdo deste isótopo no neodímio deve ser maior do que 12%.
Produtos da fissão nuclear
A fissão nuclear produz vários isótopos de diferentes elementos. Fonte: Access Science.
porcentagem de isótopos na fissão
Este gráfico mostra a porcentagem dos isótopos gerados na fissão nuclear do U-235. Embora a média do número de massa (A) seja de 118, os isótopos que mais aparecem possuem A aproximadamente 95 ou 137. No lado direito, o decaimento beta dos isótopos até obter um elemento estável. Fonte: Hyper physics.

No mesmo ano, o físico francês Francis Perrin descobriu as 4 evidências citadas anteriormente em 17 locais da região de Oklo.

Acesse o post sobre o funcionamento de uma usina nuclear para mais informações sobre a reação de fissão.

Como funciona uma usina nuclear?Clique aqui

Como funcionou?

Além de ter a quantidade mínima de 3% de urânio-235, outros requisitos para um reator nuclear natural funcionar são:

  • Uma fonte de nêutrons para iniciar a reação em cadeia. Quando o U-235 decai, tório e nêutrons são produzidos.
  • Alta concentração de um material moderador, para reduzir a velocidade dos nêutrons. Neste caso foi usado água.
  • Baixa concentração de absorvedores de nêutrons, como cádmio, boro ou lítio.
  • A largura do minério de urânio deve ser maior do que 2/3 de um metro, para a reação continuar antes do nêutron deixar a reserva. 
visão transversal do reator nuclear natural
Visão transversal do reator nuclear natural. (1) locais do reator, (2) arenito, (3) camada de minério e (4) granito. Fonte: (Zhao, 2016).

O calor da fissão evapora a água, interrompendo a reação em cadeia. Consequentemente, a temperatura abaixa e a água aparece novamente, reiniciando a reação nuclear. Este reator funcionou por centenas de milhares de anos, gerando uma potência média de aproximadamente 100 kW, algumas fontes afirmam 25 kW. Tinha 40 km de comprimento, mas o impacto ambiental afetou somente 40 metros de distância do reator em todas as direções.

Esta interessante descoberta pode dar dicas de como gerenciar melhor os resíduos radioativos das usinas nucleares.

About Pedro Ney Stroski

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *